Como já afirmamos em artigos
anteriores, a velha democracia burguesa tem a seu serviço várias instituições,
todas elas criadas e mantidas para dar sustentação à velha ordem. Sendo a farsa
eleitoral o seu principal suporte, tudo que a ela estiver relacionado trará,
inexoravelmente, a marca do velho, ou seja, a fraude e a enganação. Em seu contexto
as pesquisas de opinião e as pesquisas de intenção de voto, portanto, trazem
esta mesma marca.
Nunca é demais lembrar que numa
sociedade de classes, regra geral, os modos de pensar e agir dominantes são
ditados pelas classes dominantes que, para tanto, lançam mão de seus aparelhos
ideológicos, entre os quais a imprensa,
mantida sob regime de monopólio, cumpre papel decisivo para a formação daquilo
a que se denomina por opinião pública.
Somente em momentos de crise
aguda na luta de classes, em que as forcas das classes dominadas se unificam em
torno de determinadas ideias, divulgadas através de vigorosas campanhas de
agitação e propaganda, a opinião pública se divide e, em alguns casos, escapa
aos ditames dos monopólios.
Porém, se prestarmos bem atenção
aos noticiários da imprensa dos monopólios, veremos que o mundo
"midiático" não passa de duas centenas de "personalidades"
e "celebridades" políticas, artísticas, esportivas, religiosas,
intelectuais, militares e empresariais. São, praticamente, as mesmas figuras
que se revezam nas paginas dos jornais, nas rádios e telas de TV. Dificilmente
você assistirá a um noticioso que, afora o escândalo do dia, não traga alguma
informação sobre Dilma, Obama e a Rainha da Inglaterra, só para ficar num
pequeno exemplo.
No período eleitoral o público é
bombardeado diariamente com informações sobre as mesmas pessoas, de acordo com
o interesse dos proprietários do veículo de comunicação. E isso tem um efeito
subliminar quando, por exemplo, o eleitor é abordado na rua e diante de uma
lista é solicitado a responder a indagação de que se a eleição fosse hoje em
quem ele votaria.
PESQUISA DE MERCADO
A pesquisa de opinião aplicada à
política nessas sociedades aparentemente não difere daquilo que se conhece
comumente por pesquisa científica, adotando os mesmos procedimentos
metodológicos, cada vez mais refinados. Os critérios para a extração da amostra
correspondem a procedimentos estatísticos padrão, já que o interesse do
candidato, do instituto ou do veículo de comunicação que patrocina a pesquisa,
é captar com a máxima confiabilidade a "alma" do eleitor para, aí
sim, poder iniciar o processo de manipulação.
Na verdade, copiadas das
pesquisas mercadológicas, as quais sondam o gosto, o interesse e o sentimento
do consumidor em relação a determinado produto ou serviço, as pesquisas de
opinião aplicadas pelos marqueteiros,
tanto as quantitativas como as qualitativas são obtidas identificando opiniões,
atitudes, sentimentos e valores do eleitor, não com o intuito de transformá-los
em planos e projetos executáveis, mas meramente para a elaboração de discursos
demagógicos nos horários eleitorais e nos debates.
Nem Dilma Rousseff e nenhum
governador ou prefeito anunciou em sua campanha eleitoral que daria mais
atenção aos compromissos com o sistema financeiro do que com a saúde, a
educação e ao funcionalismo, muito pelo contrário, todos se esmeraram em
defender que se eleitos dariam prioridade à saúde e à educação e na realidade o
que vemos é o sucateamento da saúde, da educação e do serviço público em geral.
É claro que todos eles, através da pesquisa, utilizaram uma parcela do público
(amostra) como cobaia para testar suas propostas e argumentos, logo abandonados
findo o pleito. A pesquisa na verdade teve a finalidade de desenhar a imagem do
candidato a ser vendida aos eleitores.
CONHEÇA HOJE O VITORIOSO DE AMANHÃ
As pesquisas de intenção de voto
estão definitivamente incorporadas ao processo eleitoral. Mal acaba uma eleição
e já começam as especulações em torno de prováveis vencedores do próximo
pleito, insufladas por pesquisas que antecipam o "resultado" das
urnas. Assim, o eleitor vai sendo encurralado e aí já não vê e nem busca outras
vias por onde atuar politicamente com receio de "desperdiçar" o voto.
As pessoas são desestimuladas a debaterem um programa e participarem de um novo
projeto, pois as pesquisas de intenção de voto limitam a escolha do eleitor e
as possibilidades de campanha dos demais partidos – porque sequer são
convidados para os debates nas escolas, nas associações de moradores, nos
centros culturais e, muito menos, na televisão.
Os professores Jefferson José
Ribeiro de Moura, mestre em linguística aplicada pela Universidade de Taubaté e
coordenador do curso de comunicação social das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila,
e João Rangel Marcelo, mestre em
integração da América Latina pelo PROLAM (Universidade de São Paulo) e
professor do departamento de comunicação social da Unitau, são autores do texto
Pesquisa de intenção de voto: o tigre de papel. Neste trabalho, os referidos
professores corroboram nossas afirmações ao afirmarem que "O marketing
político usa e abusa dos gráficos estatísticos e pontos percentuais. Uma queda
qualquer na pesquisa, torna-se um "despencar" do candidato. Os
jornais publicam análises e comentários sobre os dados das últimas pesquisas
com grande destaque e arte, com gráficos de meia página, indicando a posição de
cada candidato através dos meses. As TVs dão movimento às linhas e aos números.
Pesquisas do tipo "se a eleição fosse amanhã" ou "se o segundo
turno fosse entre o candidato X e Y" acrescentaram um toque de futurologia
a esse emaranhado de informações estatísticas, confirmadas por especialistas,
diretores de institutos de pesquisas e matemáticos." E arrematam: "O
valor superestimado das pesquisas de intenção de voto na formação da opinião do
público está não pelo modo que são feitas, mas pela maneira que são divulgadas.
Quando um candidato reclama que foi prejudicado pela divulgação de uma pesquisa
onde aparece em uma posição desfavorável alimenta o tigre de papel aumentando o
seu poder aos olhos da opinião pública."
Como vemos não se trata de
fiscalizar, regulamentar ou aprimorar as pesquisas de opinião e de intenção de
votos. Se tudo isso fosse feito, mesmo assim, elas continuariam a ser um
instrumento de manipulação a serviço da manutenção da velha ordem. Somente,
portanto, uma nova democracia surgida da transformação revolucionária desta
velha ordem poderá dar origem a uma nova política, na qual o resultado de uma
eleição corresponda aos anseios e à vontade da maioria do povo.